Resumos - "A Segunda Guerra Mundial e a Política de Defesa no Brasil"
Vágner Camilo Alves (Universidade Federal Fluminense)
“A declaração de guerra brasileira: análise sob perspectivas sincrônica e diacrônica”
É sobejamente conhecida, por historiadores, politólogos e internacionalistas, a razão formal que levou o Brasil a declarar guerra em agosto de 1942. Após seguidos ataques realizados por um U-Boat no litoral da Bahia e do Sergipe contra navios que realizavam comércio de cabotagem, o governo Vargas reconheceu estado de beligerância com a Alemanha nazista e a Itália fascista.
O objetivo desta apresentação é explicar este fato de uma maneira teoricamente informada. Sincronicamente comparando a situação brasileira com o que ocorreu em outros países da América Latina, em especial o México, cuja guerra também foi declarada por motivos semelhantes, em maio de 1942. Diacronicamente, explicando as diferenças da declaração de guerra brasileira vis à vis o ocorrido com o país na 1ª Guerra Mundial, quando a beligerância também foi decretada após a destruição de navios mercantes nacionais por submarinos alemães.
Ana Amélia Gimenez Dias, Universidade Federal de Juiz de Fora
A reintrodução do Serviço de Assistência Religiosa no Exército Brasileiro: Um Estudo sobre os Capelães brasileiros da Segunda Guerra Mundial
Em 2024, celebramos não apenas o octogésimo aniversário da chegada dos primeiros contingentes da Força Expedicionária Brasileira (FEB) ao Teatro de Operações Italiano, durante a Segunda Guerra Mundial, mas também o ressurgimento do Serviço de Assistência Religiosa (SAR) do Exército Brasileiro. É crucial ressaltar que, no que tange ao Brasil, o estabelecimento da linha temporal inicial das atividades de assistência religiosa nas Forças Terrestres permanece envolto em incerteza. Entretanto, a presença da religiosidade, mediada por um sacerdote, é manifesta em diversos contextos históricos.
O Brasil, inicialmente, adotou o catolicismo como religião oficial sob o regime político de caráter absolutista estabelecido por Portugal em 1824, subordinando assim a Igreja Católica ao Estado. Nesse contexto, a influência da religiosidade católica permeava várias esferas sociais e institucionais, incluindo o Exército, que desde sua origem refletia a influência da matriz portuguesa. Contudo, essa dinâmica sofreu uma transformação significativa com a transição da monarquia para a República. A promulgação da Primeira Constituição Republicana marcou a ruptura oficial das relações entre o Exército e a Igreja. O Corpo Eclesiástico do Exército foi abolido, juntamente com os rituais religiosos, como missas, distribuições de sacramentos e o respeito aos feriados e dias santos.
Durante o Estado Novo, um grupo de capelães foi integrado à Força Expedicionária Brasileira (FEB) durante a Segunda Guerra Mundial, marcando o início da reintrodução do SAR nas guarnições do Exército. Esta proposta tem como objetivo apresentar o processo de recriação do SAR do Exército durante a Segunda Guerra Mundial, analisando como o contexto político e social do Estado Novo influenciou essa reintrodução e o ressurgimento das expressões religiosas na caserna. Além disso, busca-se investigar a atuação e a rotina dos 27 capelães que acompanharam a FEB durante os meses de combate no front do teatro de operações italiano. A comunicação proposta, resultante de uma pesquisa de mestrado, busca demonstrar a inserção desses sacerdotes e pastores na caserna, seu treinamento e as principais funções que desempenharam durante seu oficialato. A análise das atividades desempenhadas pelos capelães da FEB durante a Segunda Guerra Mundial revela não apenas o cotidiano desses religiosos, mas também suas múltiplas ações e os principais desafios por eles enfrentados, enquanto representavam um elo entre o sagrado e o profano nos campos italianos da Segunda Guerra Mundial. Nesse sentido, a presente comunicação busca apresentar uma temática que transcende a análise dos conflitos bélicos, ao incorporar questões culturais relacionadas ao maior conflito do século XX.
Dennison de Oliveira, UFPR
A Força Expedicionária Brasileira volta à pátria: a celebração da Aliança Militar Brasil-Estados Unidos no contexto do fim da Segunda Guerra Mundial (1945)
Ao final da Segunda Guerra Mundial na Europa em 8 de maio de 1945 a aliança militar Brasil-EUA entrava em uma nova fase. As preocupações do pós-guerra com a Defesa Hemisférica e a manutenção do princípio da Solidariedade Continental seguiam sendo prioridades das autoridades estadunidenses. Da parte das lideranças brasileiras a intenção era capitalizar ao máximo as vantagens obtidas com a aliança militar com os EUA, almejando através destas atingir o status de potência mundial. Tais preocupações presidiram o planejamento e execução do desfile de retorno do primeiro escalão da Força Expedicionária Brasileira (FEB) que seria realizado na
Avenida Rio Branco no Rio de Janeiro, então capital federal, em 18 de julho de 1945. O desfile, embora tenha sido massivo e apoteótico, foi concebido para
ser ainda mais impressionante. A proposta original previa um desfile inteiramente motorizado, composto por quase 900 veículos. Dentre estes se incluíam mais de 60 das armas pesadas capturadas aos alemães no decorrer dos combates travados pela FEB. Além da proposta original do desfile, concebida pelas autoridades militares estadunidenses, esta pesquisa se dedica a examinar os eventos programados pelo governo brasileiro que ocorreram em paralelo, como a condecoração de altas patentes do Exército dos EUA, cerimônias e visitas oficiais, além de discussões e negociações sobre a venda de armas ao Brasil. Foram envolvidos no processo autoridades estadunidenses como os Generais Wooten, comandante da United States Army Force South Atlantic (USAFSA), Marshall do Combined Chiefs of Staff (CCS) e Arnold do
War Department (WD). Para estes o Brasil deveria seguir como um aliado na guerra contra o Japão e o programa do Lend Lease tinha que continuar para
não prejudicar a atitude amigável dos brasileiros. Os Generais dos EUA que tiveram a FEB sob seu comando durante a Campanha da Itália (1944-1945),
Clark e Crittemberger, visitaram autoridades civis e militares em Belo Horizonte (MG), Petrópolis (RJ) e Porto Alegre (RS). O contexto do retorno da FEB ao
Brasil provavelmente representou o auge do prestígio do Presidente Getúlio Vargas no plano interno e externo, bem como se caracterizou como um breve
momento de sacralização da irmandade de armas entre brasileiros e estadunidenses no quadro da Política da Boa Vizinhança. Entre a documentação consultada nesta pesquisa cabe destacar os acervos da JBUSMC (Joint Brazil United States Military Commission – Comissão Militar Conjunta Brasil-EUA) então com sede no Rio de Janeiro (RJ) depositados nos Arquivos Nacionais Americanos (US National Archives II) em Maryland (EUA).