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A Política de Boa Vizinhança em tempos de Guerra

Resumos -"Presença Aliada no Brasil"

 

Alexandre Busko Valim, Federal University of Santa Catarina

A coleção de quadrinhos Aspectos da Guerra e seu impacto social no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial

Entre 1941 e 1945, o governo britânico realizou extensas operações de inteligência e propaganda no Brasil, considerado um país crucial na América Latina. O objetivo era recuperar a hegemonia ideológica, cultural e econômica britânica, superando o poder da propaganda dos EUA. Dentre essas atividades estava a distribuição massiva de propaganda pró-Reino Unido e anti-Eixo por meio de filmes, rádio, revistas e quadrinhos. A coleção de quadrinhos "Aspectos da Guerra" é uma iniciativa notável devido ao significativo impacto social que causou ao reforçar o patriotismo, a bravura e o heroísmo entre a população brasileira. Esta coleção foi distribuída em português e desempenhou um papel essencial na produção de propaganda britânica no Brasil. A coleção "Aspectos da Guerra" contém 12 edições, com até 70 páginas cada, com uma tiragem total de aproximadamente 1 milhão de cópias em quatro anos. Com base em pesquisa de fontes primárias e de uma perspectiva da História Social dos Quadrinhos, essa apresentação visa debater de forma introdutória o impacto social dessas produções durante o conflito. Analisar como o governo britânico monitorou a recepção e o impacto social desses quadrinhos fornece uma oportunidade formidável para entender a percepção pública da propaganda britânica no Brasil. Por fim, espero contribuir para o entendimento sobre estratégias pouco conhecidas usadas pelo governo britânico no Brasil para conquistar corações e mentes dos brasileiros contra os Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial.

 

Raquel Anne Lima de Assis, Universidade Federal de Roraima

A Inteligência norte-americana no Brasil durante a II Guerra Mundial

O objetivo deste trabalho é analisar aspectos da atuação da agência de inteligência norte-americana, Office of Strategic Services (OSS), no norte e nordeste brasileiro durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45). Em meio a Política da Boa Vizinha e estreitamento das relações entre Brasil e EUA, o OSS foi criado (1941) com o propósito de empreender Serviços de Inteligência no contexto da Segunda Guerra Mundial. Uma das áreas de atuação desse órgão foi o Brasil - assim como o Office for Inter-American Affairs (OCIAA) e o Federal Bureau of Investigation (FBI) -, buscando monitorar a atuação dos países do Eixo no território brasileiro para avaliar a situação da segurança hemisférica, coletar informações para a criação do planejamento diplomático e militar e organizar um sistema de propaganda que pudesse fazer frente à radiodifusão nazista no território, além de incentivar manifestações anti-Eixo em alguns estados após os torpedeamentos na costa brasileira em agosto de 1942. Por meio da análise qualitativa de documentos oficiais produzidos pelo OSS, contendo projetos, relatórios e memorandos, buscaremos responder alguns questionamentos: O OSS buscou contribuir com a Política da Boa Vizinhança? Ou seria uma forma de oposição à atuação do OCIAA para angariar influência política no cenário doméstico e internacional? Como se deu a relação entre OSS e OCIAA? O interesse da pesquisa pelo norte e nordeste brasileiro ocorre pela importância estratégica dessas regiões. O Norte, por sua proximidade com o Caribe, era uma forma de acesso ao Canal do Panamá, região de escoamento de produtos no comércio estadunidense. Enquanto o Nordeste era a ponte de ligação entre os continentes americanos e africanos, este um dos teatros de operação na guerra. Nosso referencial teórico é no campo da História Política para compreendermos como esse órgão foi utilizado para fins políticos conforme a agenda de governo de seu respectivo Estado, o que demonstra seu papel para além de fins militares e estratégicos. Assim, utilizaremos a perspectiva de Michael Herman (1996), de encarar o serviço de inteligência como um sistema e um conjunto de processos, e de Joshua Rovner ao demonstrar como órgãos de inteligência estão sujeitos a uma politização conforme o cenário da sua política interna e externa.

 

Manoel Felipe Batista da Fonseca, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

Missão Diplomática em guerra: apontamentos sobre a expansão e as atividades dos postos consulares dos Estados Unidos no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial

Este trabalho busca fazer apontamentos gerais das atividades desempenhadas pelos postos consulares dos Estados Unidos no território brasileiro durante a Segunda Guerra Mundial. Para tal serão tomadas como principais referências dois despachos elaborados pelo conselheiro da embaixada americana, John F. Simmons, durante suas viagens ao Sul e Norte do Brasil, entre maio e junho de 1943, para inspecionar o andamento das atividades nos principais postos consulares americanos nestas regiões. Procuramos com este levantamento mostrar a importância do estudo das atividades desempenhadas por postos consulares no contexto mais geral das relações diplomáticas, além de fornecer informações e problemáticas para pesquisas mais aprofundadas de cada posto no período da guerra. A Missão Diplomática dos Estados Unidos no Brasil é a representante oficial do governo americano na condução das relações diplomáticas entres estas duas nações. Sob a égide da Política da Boa Vizinhança, as relações dos Estados Unidos com as repúblicas da América Latina seriam pautadas pela cooperação, respeito às suas soberanias e negociações de acordos comerciais. Usualmente uma missão diplomática dos Estados Unidos é composta por uma embaixada (situada na capital do Estado acreditado) e por escritórios consulares, que podem variar entre consulado-geral, consulado, vice-consulado e agência consular. Durante o período da Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945), o número de escritórios consulares americanos existentes no território brasileiro aumentou significativamente para atender ao aumento das atividades já habituais, mas, sobretudo, às novas demandas criadas pela emergência de guerra, impactando diretamente nos trabalhos diplomáticos e assuntos consulares. Existiam na Missão Diplomática americana no Brasil, em outubro de 1939, um consulado geral, cinco consulados, um vice-consulado e uma agência consular. Já o seu ápice foi alcançado entre o final de 1942 e meados de 1944, contando com um consulado geral (São Paulo), dez consulados (Salvador, Recife, Natal, Fortaleza, Belém, Belo Horizonte, Santos, Florianópolis e Porto Alegre), quatro vice-consulados (Manaus, Corumbá, Vitória e Curitiba), e duas agências consulares (São Luiz e Rio Grande), totalizando 16 postos consulares. No final da guerra o número total foi de 14 postos consulares. Este aumento dos postos evidenciava uma necessidade prática e estratégica dos Estados Unidos neste período: ter uma maior cobertura nas principais áreas no território brasileiro, possibilitando uma melhor promoção não apenas dos serviços consulares regulares; mas especialmente às atividades ligadas diretamente ao esforço de guerra, como nas esferas econômica, política, cultural e militar. Cada posto tinha a sua especificidade e importância, no entanto, todos seguiam as instruções da Embaixada no Rio de Janeiro e do Departamento de Estado, cooperando também com outras agências governamentais e das Forças Armadas dos Estados Unidos, bem como as autoridades brasileiras em cada distrito consular. Este trabalho procura, portanto, fazer um mapeamento destes postos consulares dos Estados Unidos no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial, das atividades gerais realizadas por cada um, mostrando a importância do estudo dos consulados como instrumentos diplomáticos nas relações exteriores entre Estados.

 

Armando Augusto Siqueira, UFPE - Governo do RN

O Trampolim da Vitória na Boa Vizinhança: presença norte-americana em Natal durante a Segunda Guerra Mundial

O cenário da geopolítica na Europa no fim da década de 30 fez com que o presidente Roosevelt e seus conselheiros considerassem a possibilidade de que as hostilidades entre as principais potências européias pudessem chegar a América Latina, em particular no Brasil. Em parte, a Geografia condicionava esta possibilidade. Por ser a região nordeste o ponto brasileiro mais próximo da África, as forças armadas estadunidenses exigiam que o governo dos Estados Unidos prestassem muita atenção à situação do Brasil. Natal, ainda uma pacata e silenciosa cidade do Rio Grande do Norte, situada no nordeste do Brasil, rapidamente assumiu grande importância no planejamento defensivo e ofensivo norte-americano. No entanto, o interesse pelo Brasil foi frustrado porque a tradição, associada as restrições econômicas resultantes da depressão, mantiveram os estabelecimentos militares e diplomáticos dos Estados Unidos consideravelmente abaixo dos níveis desejáveis. Portanto, quando os líderes do governo estadunidense determinaram que as forças armadas poderiam ser necessárias no nordeste brasileiro, houve vários atrasos e empecilhos para que o plano de defesa continental elaborado pelos Estados Unidos fosse implementado. As divergências entre Estados Unidos e Brasil e entre os próprios norte-americanos sobre o tamanho, o alcance e a localização dessas forças continuaram adiando a implementação dos planos de defesa. Se o envio de forças militares para o nordeste brasileiro tivesse que ser adiado, os Estados Unidos poderiam, no mínimo, estacionar um agente diplomático / consular em Natal. Após relutância inicial e uma nomeação temporária, o Departamento de Estado nomeou um vice-consul permanente: Harold Sims, de Sparta, Tenesse, um homem muito jovem que tornou-se o primeiro representante consular fixo em Natal. Mesmo sendo auxiliado por uma equipe limitada, ele ajudou a proteger a área das ameaças do Eixo, dando uma contribuição importante para a implementação da estratégia de defesa bem sucedida na qual os americanos prestavam ajuda a amigos e aliados através do envio de mercadorias e tropas americanas que alcançaram as frentes de combate estrangeiras. Com o tempo, Natal ganhou o apelido de “Trampolim da Vitória”, pois grande quantidade de equipamento e ajuda passaram pela cidade durante os primeiros anos da guerra. Os serviços do Consul foram maiores durante os meses anteriores da presença operacional e naval dos Estados Unidos na região. A interação desse funcionário consular com seus superiores do Departamento de Estado, anfitriões brasileiros, forças militares do Brasil e dos Estados Unidos, agentes estrangeiros oficiais e suspeitos estão no foco deste artigo. Para ajudar na criação de um posto consular estadunidense permanente em Natal, o Departamento de Estado dos Estados Unidos solicitou a sua equipe brasileira um relatório sobre a região. William C. Burdett, encarregado dos negócios da Embaixada dos EUA no Rio de Janeiro, apresentou um memorando, afirmando que a cidade de 55.000 habitantes era limpa, com clima muito agradável – um dos melhores do Brasil – com sua vida pacata e população amigável.