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A Política de Boa Vizinhança em tempos de Guerra

Resumo - Conferência Francisco Ferraz

Durante décadas se acreditava que o interesse de autores e leitores, sobre a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial, fosse pequeno. Contudo, um levantamento da produção bibliográfica sobre o tema, entre 1945 e 2020, mostra uma evolução diferente da crença comum. Os resultados mostram um o volume modesto de publicações, nas décadas seguintes à guerra. Essa produção bibliográfica se concentrava nas publicações de memórias dos combatentes, nas análises profissionais militares e nas relações internacionais que levaram o país ao conflito.

Atribuía-se tal desinteresse a fatores externos ao tema: a) resistência da historiografia universitária abordar temas militares em geral; b) resistência desses mesmos historiadores em abordar eventos ligados à instituição militar e a generais e coronéis golpistas de 1964, que pertenceram à FEB; c) Tendência laudatória de parte dos escritos históricos então existentes, sobre a atuação dos brasileiros na Campanha da Itália.

A partir da década de 1990, porém, emergiu uma produção bibliográfica muito mais expressiva, em quantidade e qualidade. Centenas de autores publicaram uma quantidade crescente de títulos, com uma produção mais diversificada nos temas, e com um perfil mais jovem dos autores e leitores. Essas últimas décadas responderam por 85% da produção de todo o período analisado.

 Os problemas de pesquisa foram diversificados, as temáticas se multiplicaram, e três pontos de mudança devem ser mencionados. Em primeiro lugar, cresceu o número de pesquisadores civis sobre o tema. Em segundo lugar, a faixa etária dos pesquisadores está mais jovem. Por fim, a origem regional dos pesquisadores interessados no país durante a Segunda Guerra está mais bem distribuída. Em relação ao aumento do número de pesquisadores civis, seu crescimento mostra que o fato de o tema ser militar não está mais afastando os interessados, o que foi comum durante muito tempo na universidade brasileira.

Além das aberturas mútuas que ocorreram, deve-se lembrar de que há uma mudança geracional: as gerações de historiadores que vivenciaram o regime militar enquanto frequentavam as universidades estão sendo substituídas por outras gerações, que puderam desfrutar de um clima muito mais estimulante para o estudo da História Militar e História dos militares do que as gerações que as precederam. As reservas mútuas se dissiparam, embora ainda não completamente. Combinadas a isso, devem ser lembradas a expansão de programas de mestrado e doutorado em História por todo o país e a multiplicação de possibilidades abertas por órgãos públicos de fomento à pesquisa, com bolsas e auxílios à pesquisa, principalmente durante os governos de Lula e Dilma Rousseff. Todos esses fatores levaram à diminuição da faixa etária média dos pesquisadores sobre a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial. É realmente algo impressionante esse caráter cada vez mais jovem dos interessados nas ações do país na guerra. Isso é verificável não apenas pelo aumento de pesquisas apresentadas em eventos de estudantes de graduação (iniciação científica), como também pelo aumento de mestrandos sobre o tema. Consultas a homepages da Web, além de grupos de redes sociais especializadas no tema, mostram que o interesse dos jovens nessa área está em franco crescimento.

A conferência será finalizada com uma avaliação das tendências recentes da pesquisa e produção bibliográfica, com particular atenção para a atração de leitores entre as novas gerações.