Registros no Método Científico

DNA

Registro biológico (DNA).

Dendrocronologia

Dendrocronologia.

Registros de informações

Um elemento essencial da natureza é o consumo de energia para gerar e armazenar informações, as quais se apresentam como registros de conhecimentos, fatos e fenômenos em diversas formas. A compreensão que temos do mundo proporcionado pela Ciência é dependente desse fato visto que registros são manifestações em meios físicos ou biológicos de informações que podem ser analisadas, interpretadas e utilizadas para construir ou refutar teorias científicas. Dessa forma, o propósito desses registros é duplo pois, além de servirem como um repositório de informações sobre o estado passado e presente do mundo natural e do universo, fornecem uma base empírica sobre a qual hipóteses podem ser testadas. Variados são os exemplos que podem ser mencionados para ilustrar formas como cadeias de acontecimentos que se desenrolam no decorrer do tempo ficam marcados. Desde os primórdios, o DNA tem sido o meio de registro biológico por excelência, contendo informações sobre a história genética das espécies ao longo da sua existência, tornando-se fonte essencial para a nossa compreensão da evolução da vida. A análise de DNA não apenas revela relações evolutivas entre espécies, mas também permite aos cientistas testar hipóteses sobre migrações, adaptações e extinções. Outra forma fascinante de registro biológico é a dendrocronologia, que utiliza os anéis de crescimento das árvores para datar eventos climáticos e ambientais passados, revelando informações cruciais para a compreensão da história do nosso planeta, e mesmo do universo.

Lesões em ossos de esqueleto exumado em Minas Gerais.

Lesões em ossos de esqueleto exumado em Minas Gerais.

Esqueletos humanos exumados permitem investigar a presença de paleodoenças.

Esqueletos humanos exumados permitem investigar a presença de paleodoenças.

Registros fósseis e observações astronômicas são exemplos adicionais de registros em que se apoia a Ciência em sua saga pela compreensão da natureza. Fósseis de esqueletos exumados de humanos que habitaram, durante os últimos 10 mil anos, o território das atuais regiões do Sul e Sudeste do Brasil, revelam a presença de bactérias do gênero Treponema, responsáveis por doenças como a sífilis venérea, nesse território. A busca pela descrição das características patológicas presentes nos esqueletos exumados são fundamentais para entender a história evolutiva das doenças treponêmicas, bem como a evolução dos humanos que as contraíram. Deformações encontrados nos ossos e dentes do esqueleto de uma criança de 4 anos exumado no autal município de Matozinhos, vizinho a Belo Horizonte, em Minas Gerais, são registros patológicos que indicam que ela deve ter tido uma forma severa de sífilis congênita causada pela bactéria Treponema pallidum. Registros biológicos de DNA, mais precisos, permitem conclusões mais detalhadas, como aconteceu com análises de amostras de sepultamentos do sambaqui Jabuticabeira II, um sítio arqueológico localizado no litoral de Santa Catarina. Nesse caso, amostras de DNA semelhantes ao da bactéria Treponema pallidum endemicum encontradas permitiram confirmar a presença das bactérias.

Anéis de poeira e gás em torno de uma estrela no final de sua vida, a nebulosa planetária NGC 3132

Anéis de poeira e gás em torno de uma estrela no final de sua vida, a nebulosa planetária NGC 3132.

Aglomerado de galáxias SMACS 0723, a imagem em infravermelho mais profunda e nítida do Universo distante

Aglomerado de galáxias SMACS 0723, a imagem em infravermelho mais profunda e nítida do Universo distante.

A ideia de radiações eletromagnéticas atuando como registros físicos reside na sua capacidade de carregar informações detalhadas sobre sua fonte de origem. Nesse sentido, as radiações eletromagnéticas, em suas diversas formas e manifestações, constituem uma espécie de registro físico universal, imprimindo no espaço-tempo informações cruciais sobre a história e a constituição do Universo. Em particular, essas radiações formam um registro histórico que contam ciclos de vida de estrelas, que nascem, crescem, mudam ao longo do tempo, envelhecem e morrem. A maioria das estrelas muda de tamanho, cor e classe pelo menos uma vez durante sua vida. O que os astrônomos sabem sobre os ciclos de vida das estrelas, e como eles estão relacionados à vida humana deve-se, em boa medida, às informações contidas em ondas de rádio, infravermelhas, ultravioletas e de raios-X. O processo de passar a radiação eletromagnética por um prisma ou grade para dispersá-la em seu espectro componente é um exemplo de como os cientistas acessam esses registros. Cada cor ou comprimento de onda revela diferentes propriedades da fonte emissora, permitindo uma compreensão de fenômenos astronômicos que deram origem a esses registros. A análises dessas informações permitem não somente verificar a validade de teorias fundamentais da física e da cosmologia, como tem levado à descoberta de novos planetas, à compreensão da expansão do Universo e à identificação de elementos químicos desconhecidos na Terra. Em consequência do conhecimento assim adquirido ao estudar as variações e peculiaridades desses registros ao longo do tempo e do espaço, os cientistas podem fazer previsões sobre o futuro do Universo e o destino de seus constituintes, desde estrelas individuais até galáxias inteiras.

O método científico define o fazer Ciência como uma interpretadora de registros, onde tais registros são considerados como evidências empíricas fundamentais para corroborar ou refutar determinadas proposições teóricas. Essas evidências são distintamente categorizadas de acordo com seus métodos de aquisição, seja por coleta direta ou experiência sensorial, seja por meio de procedimentos experimentais. Desse modo, os registros assumem um papel crucial no método científico, essenciais tanto para a validação ou refutação de hipóteses quanto para a mediação entre teorias divergentes. Para desempenhar essa função adequadamente, é imperativo que os registros sejam acessíveis publicamente e sua integridade seja incontestável, posicionando-os como pilares na construção do conhecimento empírico, ou seja, um conhecimento cuja comprovação ou refutação depende de experimentação ou experiência.

A captura de registros é delineada por duas vias não excludentes principais, observação e experimentação, cada uma definida pela natureza da interação com o fenômeno de interesse. A experimentação caracteriza-se pela manipulação ativa para induzir fenômenos específicos, contrastando com a observação, que é essencialmente passiva. Por exemplo, introduzir DNA viral em uma bactéria constitui um ato de experimentação, enquanto a análise das órbitas planetárias via telescópio exemplifica a observação. No primeiro caso, o DNA modificado é produzido ativamente pelo biólogo; no segundo, as órbitas planetárias são observadas independentemente da ação do astrônomo. Ressalte-se que a observação de registros pode requerer o uso de equipamentos e técnicas especializadas (como no caso da observação astronômica por meio de telescópios), embora essas ferramentas não alterem o fenômeno observado. Embora a percepção não assistida seja geralmente reconhecida como uma forma de observação, há um debate sobre até que ponto os objetos acessíveis somente com o auxílio de instrumentos devem ser considerados observáveis e, consequentemente, reconhecidos como registros. Apesar dessa importância crucial, os registros não podem ser automaticamente aceitos como evidências científicas se não forem obtidos seguindo os rigorosos critérios do método científico dentro do contexto de uma teoria científica, o que os tornaria questionáveis em termos de confiabilidade e possíveis vieses.

A habilidade de interpretar informações sobre a manifestação de fenômenos ou eventos, simbolicamente representados nos registros por eles gerados, é fundamentada em duas práticas cruciais: a observação e a interpretação desses registros. Como já foi destacado, a observação desses registros muitas vezes se dá por intermédio de tecnologias que variam em complexidade. Tanto a análise de fósseis brasileiros quanto a observação de imagens capturadas pelo Telescópio Espacial James Webb ilustram a dependência de processos tecnológicos avançados para decodificar DNA e para realizar medições telescópicas que captam segmentos específicos do espectro eletromagnético, respectivamente. Esses processos transformam as informações contidas nos registros em dados passíveis de análise. Através dessas técnicas, os cientistas são capazes de "viajar no tempo", observando eventos biológicos ou cósmicos que aconteceram há milhares, milhões ou até bilhões de anos. As análises desses dados, por sua vez, geralmente se baseiam em ferramentas conceituais à disposição da mente humana para decifrar o mundo ao nosso redor, como a Lógica, a Matemática e a Filosofia. Essas ferramentas, apesar de abstratas e existentes somente na esfera do pensamento humano, são indispensáveis na validação de teorias desenvolvidas a partir do conhecimento obtido nessas áreas, enfrentando o desafio de compreender fenômenos que existem independentemente da cognição humana.

Este paradigma se desdobra em múltiplas etapas dentro da prática científica contemporânea, envolvendo a identificação e coleta de registros orientados por teorias e hipóteses previamente estabelecidas. A captura desses registros é facilitada por instrumentos tecnológicos específicos, cada um projetado para detectar fenômenos particulares e convertê-los em dados armazenáveis e analisáveis. O compartilhamento e análise desses dados são exponencialmente potencializados pelo avanço tecnológico digital, permitindo colaborações globais e análises sofisticadas que impulsionam o refinamento teórico e a descoberta científica.

 

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