Os professores pressionados
Dia 14 de dezembro, prazo limite para a entrega dos conceitos dos alunos, os professores resolveram cumprir a deliberação da assembléia.
Na reunião do Conselho Universitário realizada em 9 de janeiro de 1980, de um lado estavam os docentes e os discentes, de outro lado, a administração da universidade. Pela leitura da ata, fica claro que a administração contava com o apoio da maioria dos diretores dos Institutos, com exceção do diretor do Instituto de Agronomia, professor Ary Carlos Xavier Velloso.
O Reitor iniciou seu pronunciamento, dizendo que sabia que as notas estavam sendo entregues para os alunos, mas não eram enviadas para Decanato de Graduação. Isto aconteceu, segundo afirmou, especialmente nos institutos de Ciências Exatas e no de Agronomia. A reunião do Conselho foi suspensa e uma portaria assinada na hora nomeando os professores José Antônio Pinheiro Gomes Saraiva e Roberto Campos e a servidora Zenaide Figueira da Silva, para formarem uma comissão encarregada de investigar o assunto. O professor José Antônio Pinheiro Gomes Saraiva foi instruído a retirar-se do plenário e iniciar as diligências.
Logo depois de reiniciar, a reunião foi novamente suspensa, desta vez pela procuradora-geral da Universidade, Maria Arruda Bacharat, que “(…) pediu desculpas, mas precisava falar urgente”. Ela informou que “fora encontrado um quadro de avisos no Departamento de Solos repleto de relações de graus e conceitos de alunos, inclusive um deles preenchido no formulário oficial do Decanato de Graduação. Continuando sua explanação, alertou que a Comissão recém formada não deveria retirar os documentos do quadro de avisos, sob pena de danificá-los.
O presidente do Conselho pediu à Ary Velloso, diretor em exercício do Instituto de Agronomia, que fosse até o local e retirasse o documento. Esse afirmou que já que sabia da existência dos documentos no quadro, há algum tempo. Foi interpelado pela procuradora, que se disse surpresa com a informação, já que recebera do próprio diretor, por ofício protocolado, a informação de que os conceitos não haviam sido fornecidos.
O presidente, Arthur Orlando Lopes da Costa, reafirmou sua determinação de que o professor Ary Velloso fosse buscar o documento. O conselheiro retirou-se do plenário, regressando vinte minutos depois. Confirmou que a documentação estava afixada no quadro de avisos, desde o dia 14 de dezembro, assinada pelo professor Luiz Freire. O fato foi registrado.
Prosseguindo, o reitor informou sobre um ofício remetido ao Ministro da Educação e Cultura, denunciando às “perturbações” que a ADUR estava promovendo com a participação de cerca de 83 docentes. Denunciou incidentes como invasão de salas, ocupação do anfiteatro, contestação, publicação de boletins especiais desabonando a Reitoria e a retenção dos conceitos e provas, prejudicando especialmente 150 estudantes que não puderam formar. Ao encerrar, pediu para ser aprovado um requerimento para abertura de inquérito junto a Polícia Federal.
O professor Guilhermino Costa Souza propôs um voto de total apoio ao reitor, no que foi seguido pelos professores Homero Roberto Passos Werneck de Carvalho, Fausto Aita Gai, Henrique Boschi, Nei Queiroz Silva, Geraldo Goulart da Silveira e Octacílio Pinto Cordeiro de Souza.
O único voto discordante foi do professor Ary Velloso, que manifestou-se contra à rescisão do contrato do professor Walter Motta Ferreira. Foi interrompido pelo Reitor, dizendo que as medidas eram contra as “indisciplinas e insubordinações de um grupo de docentes, indisciplinas essas que culminaram com a sonegação de conceitos e provas”.
A moção de solidariedade proposta pelo professor Guilhermino Costa Souza foi assinada por todos, exceto pelo professor Ary Velloso. O reitor encaminhou o pedido de inquérito, ao mesmo tempo em que enviou à ADUR uma carta solicitando o cancelamento de sua inscrição. Apesar da retenção dos conceitos, a administração da Universidade manteve a cerimônia de formatura, embora sem fornecer o histórico escolar e o diploma.
Preocupados com os prejuízos aos formandos, e temerosos do inquérito policial, os dirigentes da ADUR decidiram consultar ao MEC. O consultor jurídico do MEC, Álvaro Campos, depois de reunir-se com os docentes, fez um apelo para que os conceitos fossem entregues, enquanto isso tentaria sustar o inquérito policial e o inquérito administrativo. Quanto à demissão, reiterou que seria examinada como recurso administrativo.
Seguindo as orientações do MEC, os professores entregaram os conceitos e suspenderam a paralisação, que ocorreria no início do ano letivo. Comunicaram suas deliberações para o Reitor, solicitando que fosse encerrado o inquérito administrativo e policial contra 83 professores. Nada foi obtido no encontro.
Vários professores foram chamados a depor. Ao mesmo tempo, a Reitoria começou a pressionar os professores que ocupavam funções gratificadas, e que se posicionaram contra a demissão, a entregarem seus cargos. Esse foi o caso da Diretoria do Instituto de Agronomia. Além dessas medidas, sete professores tiveram suas bolsas de pós-graduação canceladas.